Eu Vi e Ouvi: Bastidores da Câmara

O sol já estava se pondo quando representantes do transporte alternativo recebem a ligação do vereador Valdevan Noventa (PV) avisando que chegou a seu gabinete um projeto de lei complementar, encaminhado pelo prefeito Dr. Evilásio Farias (PSB), autorizando pessoas jurídicas a exercerem o serviço de transporte alternativo, e conseqüentemente, participarem da licitação no setor.

Às 18h40, sentado em frente à câmara e com o telefone na mão, um dos representantes do alternativo avisa que aquela noite, terça-feira, dia 1, será quente.

Depois de 15 minutos os parlamentares entram no plenário. O primeiro-secretário Valter Paulo (PSB) leu o texto bíblico, assim como nas outras sessões.

A câmara ainda estava vazia. Do lado de fora, por telefone, todos do alternativo vão sendo avisados. “Vocês precisam vir para cá. Nós precisamos de gente aqui”.

A Ata da Sessão anterior foi aprovada. O segundo passo era votar as indicações em blocos como acontece há dezenas de sessões. Noventa viu que a sessão estava vazia e pede  para que as as indicações sejam votadas uma a uma.

Paulo, responsável pela leitura, não deve ter gostado muito. Foi lendo uma a uma. Em seguida aprovavam.

Os micros ônibus foram chegando. Um, dois, três, dez… não paravam de chegar.

Faltando dez minutos para encerrar a primeira parte da sessão, que termina rigorosamente às 20 horas, a polícia civil chegou.

Arnaldo da Imobiliária (PSB) conversava com os líderes da categoria.  Pressionado, afirmava que o projeto iria beneficiar a categoria. Nem ele, nem os ‘perueiros’ acreditaram.

Ainda deu tempo para o vereador Carlos Andrade (PV) ir à tribuna. Ninguém deu muita bola para o que ele disse porque o assunto da noite era transporte alternativo e sobre este tema o vereador, que já foi Secretário de Transporte, perdeu uma grande oportunidade de esclarecer diversos pontos da licitação.

Fim das preliminares. A noite vai começar. De um lado trabalhadores do transporte alternativo. Do outro, os vereadores eleitos pelo povo.

Começa.

O Líder do Governo apresenta uma urgência especial. É o projeto de lei complementar 15/2009. Se o projeto for aprovado, apenas as pessoas jurídicas vão comandar o transporte alternativo no município. Claro, as cooperativas também podem participar.

Nem bem começou a segunda parte da sessão e o vereador Macario (PT) se desentende com os representantes do alternativo. Fica bravo. Não quer sentar, como pedem seus colegas. Seus assessores tentam conte-lo.

 

Teimoso, vai à tribuna e esbraveja. Quando de repente tudo se apaga. Isso mesmo. Luz, plenário, câmeras, e outros equipamentos param de funcionar. Alguém desligou a chave geral.

Todos ficam apreensivos. Uns gritam. Outros se escondem. O medo e a tensão tomam conta do plenário. A coisa vai piorar.

O presidente da câmara, José Luiz Eloi (PMDB), faz um discurso duro. Critica seus colegas. Critica o executivo. Defende mais discussão no projeto. Faz de tudo para que o projeto não entre em votação.

Sabe que são 11 contra 1, já que ele só vota em caso de empate. Sabe que o projeto vai ser aprovado. O máximo que vão conseguir é constranger os vereadores que estão receosos.

Não gostam de pressão. Não estão acostumados com pressão.

Então o vereador Paulo Félix, líder do governo, vai à tribuna.

Dois minutos de vaias e xingamentos. Na primeira sílaba que fala, todos ficam de costas para ele. Continuam a vaiar. Assim será até o fim da sessão.

Ninguém ouve o que ele diz. A câmara é tomada pelas vaias. Félix grita. Esbraveja.

Os primeiros papéis começam a ser atirado em sua direção. Em seguida copos plásticos. Vazios. Cheios. Lata de refrigerante. Moedas e enfim ovos. Dois.

Sobrou para os funcionários da câmara muita sujeira e algumas moedinhas. E alguns respingos dos ovos.

Todos estavam abalados. Não tinham condições de votar mais nada. Eloi pediu pareceres de duas comissões. Justiça e Transporte. A comissão de transporte, presidida por Noventa, pediu prazo para dar seu parecer.

O prazo terminou na nesta sexta.

O projeto foi aprovado.

Post alterado dia 08/09 às 15h30 – Inclusão e alteração de informações

0 comentário em “Eu Vi e Ouvi: Bastidores da Câmara”

  1. Allan,

    Cara, nunca havia visto antes na nossa imprensa, alguém que vê, ouve e é capaz de transmitir isso pro leitor. Essa matéria tem um valor histórico em Taboão. Que Deus lhe dê longa vida e que possa ainda por muito tempo fazer a cobertura da Câmara.

    Isso é jornalismo, é inteligência, é vontade de informar. Você é o homem!

    Parabéns

    Sudaia, um munícipe que já tinha desistido de ler os jornais e sites da cidade.

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