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Artigo: As Dificuldades Encontradas No Processo De Inclusão De Pessoas Com TEA No Mercado De Trabalho

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Por Renilson Raimundo da Silva Dias / Gabriela de Oliveira Lima*

Se é difícil ver pessoas com qualquer deficiência incluída no mercado de trabalho, imagine se deparar com pessoas com TEA (transtorno do espectro do autismo), em específico, trabalhando então, é uma raridade.

A luta para que se seja cada vez mais comum um autista conseguir concluir seus estudos básicos e ingressar em uma carreira profissional é frequente. Nos últimos anos, a população de crianças autistas aumentou de uma maneira exponencial. É preciso que as escolas estejam preparadas para receber essas crianças e que elas tenham um estudo adequado e adaptado, para que – quando elas cresçam – as empresas estejam de braços abertos para recebê-las. Que entendam que sim, são muito capazes de atingir os níveis de resultados e comportamentos exigidos, como também, adaptações no modo de trabalho.

No Brasil, de acordo com o IBGE, cerca de 85% dos autistas estão fora do mercado de trabalho. É um número muito preocupante. Ainda assim, existe a Lei 12.764, de 2012 – também conhecida como Lei Berenice Piana – que abriu portas para o reconhecimento de TEA’s dentro do rol das demais deficiências e – desde então – tem sido mais discutido, diagnosticado e, de certa forma, vem criando mais oportunidades.

Empresas de pequeno porte dificilmente estarão aptas para oferecer oportunidades de trabalho com adaptações e períodos de testes para pessoas atípicas, pois não têm conhecimento para preparar a equipe e receber um novo profissional autista, diferente de grandes empresas, que têm a capacidade de disponibilizar cursos que capacitem a todos com informações úteis sobre a condição de alguém com Transtorno do Espectro do Autismo, e incentivar o respeito às possíveis situações de isolamento e dificuldade de expressão, além de criar oportunidades de vagas específicas para eles, é só querer.

Existem diversos fatores que abrangem a inclusão no mercado de trabalho, um deles é indispensável, a educação. Aqui no Brasil, não há lei que garanta cotas para pessoas com deficiência, apenas para concursos públicos. Ou seja, um autista terá de passar por um processo de ampla concorrência para conseguir uma vaga. O Censo da Educação Superior de 2019 contabilizou pouco mais de 1.500 autistas matriculados nas universidades. Na prática, muitas pessoas ainda não declararam o transtorno perante a faculdade.

Outro fator extremamente importante é a questão dos tratamentos, que envolve um outro fator também: o financeiro. Uma família que depende do SUS, pode vir a ficar desestimulada a continuar com tratamentos essenciais, diante dos desafios encontrados.

Quando o tratamento é iniciado desde cedo, de forma contínua, a criança tem mais chances de que seu desenvolvimento permita, mais tarde, uma melhor adaptação em escolas, universidades e, consequentemente, a entrada no mercado de trabalho.

Devemos ser otimistas e lutar por melhorias nos próximos anos. Hoje já existem algumas ONGs com filiais no Brasil, que preparam autistas de grau leve, ou seja, aqueles que possuem alta funcionalidade, para atuar no mercado de trabalho e passam por um período de preparação e suas habilidades são identificadas para preencher uma possível vaga.

Algumas grandes empresas também, como o banco Itaú e outras de tecnologia, vêm abrindo oportunidades, pois reconhecem que os autistas possuem características lógicas e matemáticas com grande desenvoltura, e é justamente o que esse mercado necessita.

A longo prazo é preciso que haja uma estrutura devidamente estabelecida, para que o público TEA tenha capacidade necessária de tratamento contínuo desde cedo, estudo básico, ingresso nas universidades, para chegar de fato ao mercado de trabalho, e após isso, um sistema que permita uma aposentadoria de qualidade.


*Renilson Raimundo da Silva Dias – Estudante de Psicologia e Acompanhante Terapêutico (AT) / Contato: renilsondasilvadias75@gmail.com

*Gabriela de Oliveira Lima – Estudante de Comunicação e Marketing / Contato: gabi.oliverlima@outlook.com

Referências bibliográficas: COSTA, Bruna Santos; NAKANDAKARE, Eduardo Bento; PAULINO, Eduardo. A inserção do autista no meio acadêmico e profissional de tecnologia da informação. Refas: Revista Fatec Zona Sul, v.4, n.4, junho, 2018.

NASCIMENTO, Manuella Franchesca Oliveira da Costa. Autismo, mercado de trabalho e o papel do empregador: a necessária inclusão da pessoa com Espectro Autista. Salvador, 2017.

*O artigo não reflete, obrigatoriamente, a opinião do Taboão em Foco.

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