ARTIGO: Violência nas escolas: Uma visão psicossocial

Por Théo Maia*

Uma problemática contemporânea , ue vem se alastrando nas escolas é a violência que acontece através das mídias sociais, como o Whatsapp e Instagram. Os meios tecnológicos permitem que as pessoas – sejam adultos, crianças ou adolescentes – percam os seus filtros sociais.

Quando a gente está frente a frente com uma outra pessoa, temos uma série de filtros sociais que nos fazem repensar o que iremos dizer. Já quando estamos atrás de uma tela, sendo de um computador ou de um smartphone, perdemos este filtro e a impulsividade pode tomar conta, levando ao chamado cyber bullying. Termo este designado e moderno, referente as críticas exibidas virtualmente. Esta questão pode ser combatida pelos gestores e professores.

Ainda que cada caso tenha a sua especificidade, existem maneiras de mapear as causas da violência nas escolas. O que deve ser feito é identificar quais são as funções do comportamento violento e agressivo: Quais são as motivações por trás desse comportamento? Algumas pessoas acabam sendo agressivas porque querem se sentir poderosas dentro de um contexto em que se sentem fragilizadas”.

Educadores e membros da comunidade escolar devem estar atentos aos primeiros sinais de situações violentas. Por isso, é fundamental que a gestão escolar oriente a equipe docente a identificar e acompanhar casos de bullying, por exemplo.

O ideal seria agir em cima da prevenção das situações. Tentar identificar situações quando elas estão começando a surgir. Educadores devem observar mudanças comportamentais nos estudantes.

Além da identificação precoce e de manter o diálogo e uma escuta atenta, também é apropriado manter os espaços de convivência escolar sob a supervisão de um adulto.

Existem vários estudos mostrando que a agressividade tende a acontecer em ambientes que não são tão observados. Então, a simples presença de um adulto no pátio na hora do intervalo pode ajudar bastante.

Mais um caso de violência numa escola pública de São Paulo. (Foto: Agência Brasil)

Escolas que utilizam métodos mais punitivos, ao longo do tempo, acabam sofrendo um aumento nos índices de violência. É preciso ter cuidado com as punições excessivas, pois elas geram um ambiente hostil. O trabalho dos professores deve fortalecer o vínculo entre escola e aluno.

Com punições excessivas e desmedidas, as pessoas tendem a se sentir mais paranóicas e mais desconfiadas… isso acaba se transformando em um ciclo negativo de violência.

Tem muitos alunos que deixam de ser agressivos a partir do momento em que eles começam a achar uma via para se sentirem poderosos e eficientes, como através do esporte, através da arte.

O trabalho com a arte, com a literatura e com o esporte pode ser muito benéfico para promover a saúde mental na escola, através do desenvolvimento das competências socioemocionais dos estudantes.

O manejo mais importante deverá acontecer com os alunos e a família deverá ser informada. É necessário, em todos os casos, que a família reforce a intervenção da escola.

Quando a gente se conecta com familiares nesse tipo de ocasião, o mais importante é conseguir funcionar de uma forma sinérgica com a família, onde a família-escola apontam num mesmo sentido, falam numa mesma direção , visando a resolução de questões pontuais antes que extrapolem para quadros complexos.

Quando família-escola falam línguas muito diferentes, temos o efeito contrário: essas situações acabam deturpando o sentido de certo e errado da criança e do adolescente.


Referências

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BRACCO, Silvia Maia. Psicanálise e educação: um diálogo possível. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DO ADOLESCENTE, 1., 2005, São Paulo. Anais…São Paulo: [s.n.], 2005. Disponível em: <http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MSC0000000082005000100007&script=sci_arttext>. Acesso em: 6 maio 2012.

CEREZER, Cleon; OUTEIRAL, José. Autoridade e mal-estar do educador. São Paulo: Editora Zagadoni, 2011.

DEBARBIEUX, Eric; BLAYA, Catherine (Orgs.). Violência nas escolas e políticas públicas. Brasília, DF: Unesco, 2002.

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FRELLER, Cintia Copit. Pensando com Winnicott sobre alguns aspectos relevantes ao processo de ensino e aprendizagem.Revista Psicologia USP, São Paulo, v. 10, n. 2, 1999. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65641999000200012&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 7 maio 2012.

*Théo Maia é psiquiatra e médico clínico – CRM 163843/SP / E-mail para contato: tpedigone@gmail.com

*O artigo não reflete, obrigatoriamente, a opinião do Taboão em Foco.

2 comentários em “ARTIGO: Violência nas escolas: Uma visão psicossocial”

  1. Ótimo artigo.
    Pensando com Winnicott, psicanálise sempre importante.
    É como se o mal-estar na civilização estivesse sendo suprimido pela falsa ideia de um anonimato nas redes.

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