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De petista ‘radical’ a escudeiro de Fernando e colaborador de Evilásio, Paulo Félix tem trajetória ‘eclética’

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Por Adilson Oliveira, no Centro de Taboão da Serra

O vereador Paulo Félix recebeu no domingo, dia 6, no Cemur, o título de “Cidadão Taboanense” por ostentar seis mandatos na Câmara Municipal – 26 anos de parlamento – em uma trajetória política pendular, eclética, em que foi militante “radical” do PT, abandonou o partido para compor com prefeiturável do PMDB, aderiu a Fernando Fernandes – ex-integrante do (extinto) PPB de Paulo Maluf –, fez oposição ferrenha ao governo Evilásio Farias, virou líder do prefeito e hoje faz críticas consideradas tímidas ao governo do PSB.

Paulo Félix na posse de prefeito e vereadores em 1993. Os discursos e as frases de efeitos marcaram a carreira do político. (Foto: Adilson Oliveira / Jornal Atos - 1.jan.1993)

No PT, que ajudou a fundar e pelo qual se elegeu três vezes – com início na vereança em 1983 –, Félix fez oposição virulenta às gestões Vicente Buscarini (PMDB) e Armando Andrade (PTB), nos anos 80-90, quando tinha atuação destacada por moradia. “Esse homem tomou sol e chuva para enfrentar capangas dos Basile [donos de terras] para termos o direito de construir nossas casas”, disse o metalúrgico José Jaime, 58, uma das 600 famílias beneficiadas no Jardim das Margaridas.

Antes adversário de “tirar o sono” dos mandatários como líder dos sem-terra, Félix recuou e em 2009, na sessão de 50 anos de Taboão, retratou-se para Armando ao afirmar que o ex-desafeto fez grandes obras nas duas gestões como prefeito. Despertou a ira do dirigente petista Irineu Casemiro, que classificou o gesto de insanidade por “renegar a passagem pelo PT”. Em resposta a Irineu, que teve como chefe de gabinete na Câmara, Félix disse fazer apenas uma autocrítica pessoal.

Acusado de tutelar e arrastar o PT para a órbita do governo Buscarini, Félix deixou o partido em 1995, alegando perseguição. Para os “companheiros”, ele saiu após perder o poder ao assistir à chapa que apoiava na eleição do diretório municipal ser derrotada. Em 2005, convidado por Irineu para a festa dos 25 anos do PT, foi vaiado por militantes. “Hoje, sou Félix paz e amor”, disse, constrangido, parafraseando Luiz Inácio Lula da Silva ao não reagir a opositores para se eleger presidente.

Félix era criticado por dar as costas ao PT, mas iniciou a fúria petista ao ser vice-prefeito na chapa do colega vereador Paulo Silas, em 1996, com a sigla com candidatura própria. Fracassada a “aliança-xará” e pela primeira vez sem mandato após 15 anos, foi atraído pelo prefeito eleito neotucano Fernando Fernandes. No PSDB, guinada para um ex-petista, e com Fernando no cargo, foi presidente da Câmara (2001-02), quando foi acusado de nepotismo em reportagem da TV Globo.

Escudeiro – líder na Câmara – do prefeito, Félix foi lançado candidato governista à sucessão, ainda em 2003, e se tornou alvo de “fogo amigo”. Foi tachado de “invasor de terra” pelo vice de Fernando, Israel Luciano, preterido na escolha. Presidente de cooperativa, sofreu denúncias de associados “lesados” sobre irregularidades na venda de lotes. Refutou as acusações. Com alta rejeição na cidade, teve de abrir mão da candidatura em favor da vereadora Arlete Silva, que nem era do PSDB.

Arlete foi condenada por propaganda antecipada e obrigada a retirar painéis imensos com sua foto dos “escritórios políticos”, “fugiu” de debates. Perdeu a eleição para Evilásio. “A coordenação teve responsabilidade, passou a imagem de arrogância, abuso de poder econômico”, sentenciou o também derrotado Fernando, após a sessão pelo homenageado. O coordenador era o próprio Félix – mas ele foi bem sucedido ao coordenar a campanha à reeleição da deputada Analice Fernandes.

Paulo Félix com o prefeito Evilásio. (Foto: Adilson Oliveira / Jornal Atos - 19.fev.2005)

Com Evilásio no Executivo, Félix o confrontou na discussão do Plano Diretor, dizia de tribuna que era incompetente ao repetir que o prefeito “Farias”, em trocadilho com o sobrenome dele. Depois de três anos na ofensiva, Félix mudou de lado e no início da gestão reeleita se tornou líder de Evilásio, em decisão inusitada. Em 2008, não se empenhara na tentativa da volta de Fernando, que o chamou de desleal e incoerente. “Eu ganhei a eleição, o povo não elegeu Fernando”, rebateu.

Ele deixou a liderança do prefeito para integrar a CPI da fraude de tributos, defendeu o afastamento de Evilásio, mas com a posterior calmaria do caso baixou o tom das críticas e não rompeu com o governo. Bem diferente de 2005, quando, ao atacar secretários de Evilásio de “estrangeiros” – por não serem da cidade – e diante de provocação do vereador Maurício André, então aliado do prefeito, de que era pernambucano, Félix voltou à tribuna e exibiu a identidade de paulistano.

Na CPI, Félix foi afastado da relatoria após acusação de que a cooperativa que presidia se beneficiou com baixa ilegal de IPTU. Viu armação para acabar em “pizza” – não deu outra. Revés não comparado ao caso da farra dos gastos dos congressos de vereadores. Afirma que as viagens eram legais, mas foi condenado em segunda instância e pela lei da ficha-suja está alijado das próximas eleições, hoje no PMDB. “É a Cida a minha herdeira política; agora, deixa o povo julgar”, disse, ao receber o título, sobre a esposa candidata.

Paulo Félix durante eleição do presidente da Câmara na posse de vereadores e do prefeito Buscarini (à esq.) em 1993. (Foto: Adilson Oliveira / Jornal Atos - 1.jan.1993)

 

 

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