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Rede Brasil Atual: Hip Hop tem noite de paz em Taboão da Serra

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image_previewUma fila de bicicletas em frente ao palco, rapazes e crianças dançando em círculo, casais acompanhando os shows na companhia dos animais de estimação, um artista grafitando o que escuta e presencia. No palco, uma multidão de anônimos e famosos, divertindo-se e transmitindo mensagens de paz. Assim foi a segunda edição do “Projeto Hip Hop Atitude”, na noite de domingo (14), em Taboão da Serra (SP).

Segundo a Guarda Civil Metropolitana, 15 mil pessoas compareceram a apresentações de grupos da região e dos Racionais MCs. O evento foi realizado pela Secretaria de Cultura da Prefeitura de Taboão da Serra, em parceria com a Associação Fique ONG Vivo.

A abertura foi do grupo De Loná, expressão que, segundo os integrantes, significa “Chegar no seu caminho”, em um dialeto africano. Formado por quatro garotos – Ronaldinho, Dj Neew, Deauto e Rafa –,  a atuação do grupo, que se identifica como “família”, assim como os demais do hip hop, vai além da apresentação propriamente dita. Os meninos mantêm um trabalho social envolvendo crianças e jovens no bairro de Guaianases, na zona leste de São Paulo, aos quais oferecem oficinas de rap, break e beat box (som que se produz pela boca), que são elementos constituintes da cultura hip hop, assim como o grafite.

Ver os integrantes do grupo posando para fotos com seus aparelhos de microsystem saídos da década de 1980, descontraídos, mas sem perder o ar de responsabilidade de quem representa uma comunidade, é um show a parte. Assim como as letras do grupo, cujo integrante Ronaldinho garante que encontrou no hip hop uma maneira de se interessar pela leitura e ter uma visão mais aberta para outros estilos musicais.

Enquanto o som rolava no palco, o grafiteiro Ricardo Machado, mais conhecido como Sotaq, mandava ver na tinta para reproduzir na tela o desenho de um garoto que representa o hip hop, com todos os seus elementos, incluindo o boné e as correntes. Próximo dali, um grupo de b-boys, como são identificados os dançarinos de break, se apresentava no meio da Praça Luiz Gonzaga.

Entre os mais animados, estava Ronaldo Marques, líder do grupo Família Gangster, que mantém projeto na cidade para expandir a dança de rua. Ronaldo explica que pode ser b-boy quem quer. “De criança a adulto é só querer brincar um pouco na roda que já aprende”, garante. Naquele momento, entrava para “brincar” na roda o menino Vitor, de 11 anos. Olhando para as pessoas ao redor, que o aplaudiam, o garoto explicava que pretende seguir carreira como b-boy para se “apresentar na televisão”.

“Esse evento é para coroar um movimento que começou há 20 anos com os encontros de hip hop e os bailes”, relembra Gaspar, integrante do grupo Hip Hop Atitude, iniciado em 2005, e membro do grupo Z’África Brasil, que se apresentara no sábado. “A praça Luiz Gonzaga sempre foi o berço dessa cultura, que atingiu o auge na década de 1990 com o encontro dos b-boys. Nos anos 2000, nos voltamos mais para o trabalho social para desenvolver o hip hop na prática, implantando oficinas culturais. Hoje, vamos de 15 em 15 dias em comunidades carentes e realizamos oficinas semanais”, comemora.

Outro a ressaltar a importância da praça foi o poeta Sérgio Vaz, que chegou atraindo multidões com distribuição das revistas da Cooperifa e ressaltou: “Fazer poesia para tanta gente é emocionante, assim como esse evento que resgata a cultura hip hop e valoriza a troca de experiências”. Arrepiado, ele acrescentou: “Imagine se Luiz Gonzaga não estaria feliz se também estivesse presente”.

No palco, chamava a atenção a apresentação do primeiro grupo brasileiro mulçumano hip hop, Organização Jihad Racional, com todos os integrantes vestidos a caráter, transmitindo mensagens de paz, falando em religião islâmica e trazendo também elementos africanos. “O rap foi apenas uma maneira que encontramos para falar da essência do islã, que é tão distorcida pela televisão”, garantia o MC .

A grande atração de uma noite de paz e cultura hip hop foi Mano Brown e DJ KL Jay, ambos integrantes do grupo Racionais MCs, que receberam dezenas de convidados no palco, das mais diferentes faixas etárias, quase todos de camisas listradas e muita força na voz, e levaram o público ao delírio. “Os caras já desenvolvem um trabalho muito bom aqui. Eu só vim (depois de sete anos sem se apresentar no Taboão da Serra) para acrescentar e somar”, finalizou Mano Brown.

Por: Guilherme Bryan e Virginia Toledo, da Rede Brasil Atual

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