O Geoprocessamento e a Gestão Municipal

satélite

[Leia também: Sorria, você está sendo geoprocessado]

A disseminação das novas tecnologias relacionadas a informação espacial, correntemente veiculadas pelos meios de comunicação, indicam uma crescente popularização de novas ferramentas voltadas para o conhecimento e estudo do espaço habitado. A facilidade em observar sua cidade, seu bairro e até mesmo sua casa sob uma nova perspectiva, vista do espaço, por meio dos visualizadores de imagens, como o Google Earth, geram grande interesse e fascínio nas pessoas, ao mesmo tempo em que contribuem para a criação de uma percepção mais ampla acerca do espaço geográfico.

No entanto, ao mesmo tempo em que está tecnologia vem sendo rapidamente difundida, vem se tornando alvo de uma crescente mistificação de seu funcionamento e dos objetivos de sua aplicação, sendo comum uma compreensão equivocada de seu real objetivo prático. É preciso tornar claro para a população, de uma maneira geral, a grande capacidade instrumental que esta técnica (ou ciência?) representa para o planejamento e gestão territorial.

Quando se trata de sua aplicação na gestão e planejamento do espaço urbano, o geoprocessamento deve ser visto como uma ferramenta útil e essencial ao desenvolvimento urbano, e não como uma ferramenta de extorção e vigilância, como muitos querem fazer parecer, mesmo porque, no geoprocessamento trabalha-se com imagens estáticas que representam uma dada porção do espaço em um momento determinado, não se trata de uma câmera filmando de forma continua de modo a invadir a privacidade das pessoas em seus lares.

Na realidade, o geoprocessamento, enquanto ferramenta de apropriação do espaço, adquire grande relevância por possibilitar uma visão clara da forma da ocupação realizada em um dado espaço, como a cidade, uma qualidade de grande valia quando pensamos no planejamento e gestão do espaço. Emerge daí a grande importância do geoprocessamento na gestão das cidades.

No planejamento municipal, de uma forma geral, o geoprocessamento assume um papel de destaque, fato que pode ser verificado no planejamento e gestão do município de Taboão da Serra, onde o geoprocessamento pode ser considerado como tendo um papel estratégico, como uma ferramenta focada especificamente para o planejamento e desenvolvimento urbano, caracterizando-se por possibilitar a agregação e análise de uma grande quantidade de informações.

O geoprocessamento permite que, sobrepostas espacialmente, as informações gerem respostas rápidas e confiáveis que subsidiam a tomada de decisão nos diversos campos da gestão municipal, que vão desde o planejamento da infra-estrutura básica, dos serviços essenciais, a logístico da alocação dos equipamentos públicos, da rede escolar ou das unidades de saúde, até a delimitação de áreas públicas a serem abordadas pelos programas de regularização fundiária, em que auxilia na confrontação entre as situações real e legal do uso e ocupação do solo e fornece elementos para que os especialistas tracem a melhor estratégia para regularizar as áreas em situação irregular, ou auxiliando ainda no diagnóstico e resolução de problemas de ordem ambiental, desastres naturais, distribuição da população etc.

Neste sentido, para bom entendimento do papel do geoprocessamento em Taboão da Serra, é necessário entendimento conceitual claro do que é e quais as aplicações e limitações de tal Tecnologia:

1 – O Geoprocessamento não é um simples programa de tratamento de “fotos” de satélites, é um campo que engloba diversas técnicas, desde análise espacial até o sensoriamento remoto, e sua utilização é anterior inclusive ao uso da informática na cartografia.

Os satélites não tiram “fotos”, eles capturam imagens, muitas delas multiespectrais, onde podemos capturar informações fora da faixa de luz visível pelo homem, e em sí, as imagens de satélite fazem parte do sensoriamento remoto, umas das técnicas (ou ciência, ainda em discussão) auxiliares do Geoprocessamento. As fotografias aéreas são na verdade produto de uma outra técnica adjunta do Geoprocessamento, a fotogrametria, que captura fotografias a bordo de plataformas suborbitais (em geral aviões), as quais após retificadas ortometricamente dão origem as ortofotos, estas sim com confiabilidade de mapa e utilizada em análises urbanas.

2 – O geoprocessamento não trabalha com imagens em tempo real, isto é um mito, por menor tempo de revisita que um satélite ou voo realizado tenha, sempre existe uma defasagem temporal, e quanto maior o detalhe da imagem ou ortofoto utilizada, geralmente maior a demora do tempo de revisita. O tempo de retorno para a captura de uma imagem ou fotografia de um mesmo espaço é chamado de resolução temporal. Outros três tipos de resolução fazem parte da análise dessas imagens: a resolução espectral, que se refere ao intervalo no espectro eletromagnético captado, usa-se essa característica por exemplo para mapeamento da temperatura da superfície terrestre; a resolução radiométrica: se refere a quantidade de níveis de cinza presentes numa imagem, por exemplo uma imagem em preto e branco possui apenas dois níveis de cinza, e quanto maior a quantidade de níveis nessa imagem, mais variações entre o preto e o branco e assim mais detalhes podem ser observados; por fim a resolução espacial: se refere ao tamanho do menos objeto que pode ser observado em determinada fotografia ou imagem, sendo assim, quanto menor o tamanho do objeto observado, maior a resolução espacial.  

3- Tem sido amplamente difundido o acesso aos dados de sensoriamento remoto e produtos advindos de geoprocessamento, especialmente os organizados e produzidos por organizações públicas e gerados sob interesse do povo, como é o caso de Taboão da Serra, no departamento de Cartografia.

4 – O Google Earth é apenas um visualizador de imagens com interface para entrada de dados sem precisão cartográfica, e a maioria de suas imagens é recente, muitas delas advindas não só do sensoriamento remoto, mas também da aerofotogrametria. O grande mérito do Google Earth é a difusão de um novo paradigma, onde as pessoas se apropriam de seu território, e isso representa uma mudança na forma como as pessoas encaram seu espaço.

De fato, o contato que as pessoas tem com informações geoespaciais a partir da internet, além de indicar um processo de migração de funcionalidades do Geoprocessamento para a web, representa uma forma de popularização da informação como um todo, associada a um movimento mais amplo. As possibilidades de observar sua casa do espaço também é porta aberta para o entendimento e participação no planejamento da cidade, na melhor forma de aproveitar o espaço, na resolução de conflitos ambientais e principalmente representa uma via de planejamento que emana da população e não apenas em sentido inverso, do governo para a população. O Geoprocessamento é sem dúvida uma forma de participação e não de controle.

Andreza A. Soares– Departamento de Cartografia – SEMUDUH – PMTS

Júlio César Pedrassoli – Departamento de Cartografia – SEMUDUH – PMTS

0 comentário em “O Geoprocessamento e a Gestão Municipal”

  1. Prezados Júlio Cesar e Andreza,

    Não tenho nada contra vocês darem tão longas e educativas informações sobre geoprocessamento. É sempre muito bom vermos o progresso da tecnologia.

    Contudo, após ler atentamente suas observações, continuo sem entender como eu, morando numa centralidade, numa rua em aclive (‘subidona’) esmagada pelo trânsito de carretas, caminhões-pipa e baús (que, dentre outros ‘progressos’, arrebentam nossos fios de luz e telefone, além de perder o freio e despencar sobre nossas árvores, muros – felizmente ainda não sobre as nossas residências), absolutamente engarrafada pela manhã, travessa de outra que está interditada porque desmoronou (sim, desmoronou)(a R.J.C.de Macedo Soares)sem que a PMTS fizesse nada para consertá-la (já faz um ano, a única providência foi acusar a PMSP por ter prometido construir um arrimo de concreto na nossa margem, fato que até gerou cartuns no Portal mas nunca foi confirmado), sou também vizinho do 2o. maior piscinão do Estado com todas as ‘vantagens’ dessa proximidade (moscas, pernilongos, fedor) etc.

    Alguém ai poderia me explicar porque o m2 da minha rua vale 640,00, valor venal que ninguém em sã consciência me oferece no mundo real, chamando a isso ‘justiça fiscal’?

    Alguém, caso se dignasse a me dar alguma resposta, poderia explicar com que critérios um funcionário da Guilherme Martins, no confortável escritório da firma, olhando a foto geoprocessada da minha casa e talvez tomando uma lata de coca-zero por causa do calor, tenha avaliado o imóvel onde moro em 293.434,08, valor que, repito, não se reflete na realidade imobiliária de TS, onde ele valeria, no máximo, no máximo, 80.000,00?

    José Sudaia Filho

  2. Só pra cultura de todos, em matéria assinada por Rose Santana no Portal em 2 / 12 / 2009, sob o título de ‘Prefeitura planeja recadastramento de imóveis através de imagens áereas’, somos apresentados à avançada tecnologia que iria mudar nossos destinos pra sempre. Notem o toque pitoresco do ‘puxadinho’ e data marcada para entrar em vigor (2011).

    José Sudaia Filho

  3. Pessoal, mais uma vez, tentem entender que não foi o geoprocessamento o responsável por valorar suas casas. O geoprocessamento é apenas uma ferramenta utilizada por uma pessoa. Se houve erro, a culpa não é da ferramenta. Para se obter respostas, é necessário entrar com dados nos softwares de geoprocessamento. Portanto, se as respostas parecem absurdas, os dados de entrada foram errados.
    Noutra situação, a utilização de imagens aéreas no processo de recadastramento é apenas para se extrair medidas espaciais dos lotes e casas. Obviamente que essas informações também entram nos sistemas, mas não são apenas elas. Como eu disse no post anterior, onde houve maior discussão sobre o tema, a avaliação dos imóveis se dá por um conjunto extenso de outras variáveis. Se houve uma superestimativa dos valores dos imóveis e, consequentemente, dos valores do metro quadrado em cada rua, então houve erro na concepção das informações que entrariam nos sistemas de geoprocessamento.
    Mais uma vez e, por fim, A CULPA DA SUPERESTIMATIVA DOS VALORES IMOBILIÁRIOS NÃO É DO GEOPROCESSAMENTO!! ESTE É APENAS UMA FERRAMENTA DE ANÁLISE ESPACIAL!!

    Marcos Vinicus Sanches Abreu
    Engenheiro Agrimensor – UFV
    Mestrando em Informações Espaciais – UFV

  4. Sudaia, concordo com você. Seu IPTU pode não refletir a realidade, mas não culpe a tecnologia ou o software por isso e sim o administrador de sua cidade.

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