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Será que é um problema AMAR?, pergunta o presidente da Diversitas

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WanderleyNesta segunda-feira, dia 17 de Maio, é celebrado o Dia de Luta contra a Homofobia no mundo inteiro. A data também entrou no calendário oficial do município de Taboão da Serra com a aprovação (dia 4 de Maio) do projeto de lei do vereador Wagner Eckstein (PT). Para falar sobre o tema, o site Taboão em Foco entrevistou por email o presidente da ONG Diversitas Taboão da Serra, Wanderley Bressan (foto), que falou sobre o trabalho da ONG e quais os desafios na luta contra a homofobia no município de Taboão da Serra.

Bressan adiantou – com exclusividade – que a Diversitas deseja realiza a 1ª Parada do Orgulho LGBT de Taboão da Serra na Estrada Kizaemon Takeuti, uma das mais movimentadas do município.

Confira a entrevista:

Taboão em Foco: Como vive o público LGBT em Taboão da Serra?

Wanderley Bressan: A realidade da população LGBT de Taboão da Serra, não difere muito da realidade desta população nos outros grandes municípios “periféricos” espalhados pelo Brasil. Esta população enfrenta algumas dificuldades promovidas pela homofobia. Essas dificuldades são as mais variadas possíveis, vai desde agressões e insultos gratuitos até o acesso à educação e saúde negadas. Veja. Um adolescente que está passando pelo processo de travestilidade, mudando seu corpo, e está matriculado numa escola pública, por exemplo. Este adolescente tem 99% de chances de ser assediado de diversas formas preconceituosas, e infelizmente os educadores e a direção da Escola não estão capacitados para lidar com esta situação. Esta intimidação promove um índice altíssimo de evasão escolar dessas pessoas. Em Taboão vivemos muitas situações como esta.

TF: O público LGBT sofre preconceito no município? Há discriminação por parte do poder público e por seus aparelhos (como hospitais e delegacias)?

WB: Infelizmente sim. Não posso deixar de registrar que até o momento o governo municipal se posicionou de forma muito proativa com as reivindicações da DIVERSITAS. Mas de forma geral tanto o poder público como a sociedade em geral, assim como em outras cidades, tratam a população LGBT de forma marginalizada.

A saúde é um tema interessante. Não existe no município uma política de saúde voltada para as particularidades da população LGBT. Em outros municípios já foram conquistados laboratórios de TT’s, especializados no atendimento a travestis e transexuais. Isso é garantia de direitos. Partimos do principio que o Estado deve garantir o acesso a saúde de forma plena para todos os cidadãos, isso remete a responsabilidade de se considerar as particularidades da sociedade, inclusive a da população LGBT.

A segurança é outro tema interessante. Todas as quintas-feiras, muitos jovens LGBT’s se encontram na Praça Luiz Gonzaga para conversar, bater papo, paquerar enfim… Diversas vezes, já presenciamos atos homofóbicos, vindos de comerciantes ou de outros usuários. Esses atos são intimidatórios e muitas vezes violentos. Ao procurar respaldo junto a GCM muitos LGBT’s não encontram atendimento e as vezes escutam ofensas.

A DIVERSITAS reivindica uma formação dos profissionais do setor público para melhor atender essa população e inclusive fazer valer direitos já conquistados. Hoje o Estado de São Paulo conta com a Lei 10.948, que pune com advertência e multa os espaços públicos e privados e cidadãos que ajam com homofobia.

TF: Qual é o número de LGBT´s que moram no município?

É difícil mensurar com exatidão. Segundo um estudo do IBGE, 10% da população se define como LGBT. Na festa da DIVERSITAS conseguimos reunir cerca de 500 pessoas. Mensurar com exatidão é um tanto complexo. Costumo dizer que a homofobia incentiva e possibilita o disfarce da homossexualidade. Se você é negro, dificilmente conseguirá renegar isso, se for mulher a mesma coisa, agora se você é gay, por exemplo, pode não viver sua orientação de forma transparente na sociedade. Este comportamento é adotado por muitas pessoas que ficam intimidadas com o preconceito.

Bressan no lançamento da Ong Diversitas Taboão, em Abril
Bressan no lançamento da Ong Diversitas Taboão, em Abril

TF: Quais são os próximos passos da ONG Diversitas em Taboão da Serra?

WB: Estamos ainda muito impressionados com a repercussão que a festa de lançamento tem gerado no municipio. Para nós isso é motivo de muita felicidade, pois a cidade começa a discutir o direito ao amor e a vida de muitos cidadãos. Estamos nos organizando para realizar a 1ª Parada do Orgulho LGBT de Taboão, e em primeira mão te digo que a DIVERSITAS quer muito que ela seja na Kizaemon Takeuti. Fora a Parada, iremos promover espaços de discussão, informação e empoderamento dos LGBT’s. Queremos levar a discussão de Diversidade Sexual para as escolas também.

TF: Tem alguma programação para esta data? Conte-nos detalhe sobre a participação na marcha em Brasília.

WB: Tem sim. Hoje faremos uma panfletagem com um folder da DIVERSITAS, que deve está saindo da gráfica agora, no Centro de Taboão. Amanhã, dia 20 militantes da DIVERSITAS estará indo em Caravana para a 1ª Marcha LGBT em Brasília. Essa marcha acontece na quarta-feira e reunirá militantes de todo o Brasil. O objetivo desta marcha é denunciar a homofobia e pressionar os Senadores para a aprovação do PL 122/06, que criminaliza a homofobia, e está parado no Senado onde encontra uma grande resistência de senadores da base religiosa fundamentalista, principalmente dos Senadores Marcelo Crivella (PRB) e Magno Malta (PR).

TF: Muito obrigado pela entrevista. Deixe uma mensagem a todos.

WB: Eu que agradeço o espaço. Quero dizer para os leitores do portal Taboão em foco, que nós LGBT’s não estamos reivindicando mais direitos que outros cidadãos. Infelizmente, segundo o Grupo Gay da Bahia, a cada 3 dias no Brasil um LGBT é morto por crime de ódio. Quero fazer um apelo, para que Taboão comece a refletir nisso, hoje infelizmente a reivindicação central não é mais para a união civil, ou adoção de crianças, e sim pela criminalização da homofobia, ou seja, pelo nosso direito a vida. Nós saímos de casa hoje, sem ter a certeza se voltaremos, pois podemos encontrar um homofóbico que pode cometer um homicídio e ainda por cima poderá ficar impune. E tudo isso, só porque apenas amamos “diferente”.

Queria propor essa reflexão: Será que é um problema AMAR?

Por Allan dos Reis

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