Taboão da Serra completou 53 anos de autonomia político-administrativa, neste domingo, 19 de fevereiro, com o desafio maior de consolidar a economia de “emergente” – depois de se dividir, por praticamente quatro décadas, entre município “dormitório” (residência de muitos trabalhadores da metrópole de São Paulo) e entreposto industrial, na rota para o Sul do país – e passar a limpo caso de corrupção na prefeitura sem precedentes na história da cidade, de fazer corar José Jesuíno Maciel, líder da emancipação, e os outros oito integrantes do movimento.
Pouco mais de meio século depois, a cidade, que nasceu com 8 mil habitantes, atraiu população 30 vezes maior – em diminuta área de 20,4 km2, a quinta menor no Estado –, viu chácaras e sítios se tornaram bairros, o modesto comércio dar lugar a hipermercados de grandes redes varejistas e um shopping, o parque industrial alcançar estimados 700 estabelecimentos, os setores de comércio e serviços contabilizarem mais de 600 empresas. Taboão ainda experimenta um grande investimento imobiliário, com grandes empreendimentos sendo erguidos.
INDICADORES
Taboão precisa, porém, solidificar e ampliar a posição que já ocupou. Em 2005, primeiro ano do governo Evilásio Farias (PSB), tinha o 96º maior PIB (soma do valor total de bens e serviços produzidos) do país e o 35º do Estado, de R$ 3,01 bilhões, de acordo com o IBGE. Em 2008, último ano da primeira gestão do atual prefeito, contabilizou R$ 3,88 bilhões, mas caiu para 111ª posição no ranking nacional e 40ª no estadual. Em 2009, somou R$ 4,03 bilhões, mas cresceu aquém, e perdeu mais posições – 119º maior PIB nacional e 43º no Estado.
Taboão teria se recuperado e passado a fazer parte de um grupo seleto de 106 cidades com mais de 200 mil habitantes (excluídas as capitais) que, juntas, respondem por 28% do PIB do país, de acordo com levantamento de 2011. A cidade vem se destacando pelo contingente de dez mil pessoas que se formam por ano em mais de 20 cursos que promovem o desenvolvimento do setor de serviços. Mas o pêndulo persiste. Em 2010, Taboão criou 4.345 postos de trabalho, enquanto que no ano passado amargou queda de 57,1% e gerou só 1.862 vagas.
Base para o desenvolvimento sustentável, a educação também desafia a cidade. Embora detentora de reconhecimento por iniciativas positivas, como o programa “Professor Visitador” – em que o educador visita o aluno em casa para garantir o rendimento escolar da criança –, Taboão ainda precisa melhorar muito a educação. O município ostenta Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) de 5,2 entre alunos de 1º ao 5º ano e, ainda mais baixo, de 4,2, no 6º ao 9º ano. Nota igual ou superior a 6 indica cidade com escolas de qualidade.
POLÍTICA
No campo da administração pública, Taboão é instada a criar mecanismos de controle institucional e social para prevenir desvios de dinheiro público como a fraude na dívida ativa de impostos, principalmente IPTU, na prefeitura, detectada em 2011 e que gerou grande operação policial que levou à prisão quase 30 pessoas entre funcionários e ex-servidores, empresários, quatro vereadores e três secretários do governo. Evilásio, responsável pela primeira prisão de envolvido, louvou que a corrupção foi descoberta para ser extirpada da máquina municipal.
No fim do ano passado, contudo, o prefeito desqualificou a investigação. Ele se voltou contra a investida em secretarias “que não tinham nada a ver” com a fraude. Afirmou que ONGs desviaram R$ 5.000 na Cultura, mas a polícia alardeou em relatório que uma organização criminosa chefiada pela vice-prefeita, Márcia Regina (PT), deu desfalque de R$ 1,8 milhão. De acordo com o prefeito, o recurso pagou, ao longo de um ano e meio, eventos da cidade como duas encenações da “Paixão de Cristo” e desfiles do Carnaval. “Olha que irresponsabilidade.”
“O cidadão que comandou tudo isso, acho até competente, mas não usou toda sua competência, a polícia não investigou nem antes nem agora”, disse Evilásio, ao frisar ter descoberto já em 2005 a fraude iniciada na gestão anterior. “Quando assumi, constatei – essa é a expressão -, exonerei todos e entreguei à polícia. Quantos foram presos? Nenhum. Condenados? Nenhum. Nem foram investigados, nunca nos procuraram atrás de documentos.” Para ele, se a polícia tivesse agido, teria sido exemplar contra a volta do esquema. “Impunidade estimula o crime.”
O prefeito questiona o desfecho da operação. “Guarde este número, o dr. Evilásio está dizendo que no máximo seis serão condenados, mas prenderam mais de 20 e fizeram mais de 200 buscas e apreensões. Houve foi um escárnio em querer destituir um governo eleito pelo povo, um linchamento de gente de bem”, declarou. Alvo da crítica do mandatário, o investigador-chefe Ivan Jerônimo foi procurado, mas não retornou ao contato. O ex-prefeito Fernando Fernandes (PSDB) também não se manifestou. Nesse contexto, Taboão comemora 53 anos.
Por Adilson Oliveira