Por Allan dos Reis, no Centro
Se nas ruas o clima da caminhada foi de paz, nos bastidores o clima esquentou entre o prefeito Fernando Fernandes (PSDB), a presidente da Câmara Joice Silva (PTB) e os outros vereadores, do chamado G8. O briga culminou com a ausência (quase) total dos servidores da Prefeitura Municipal, que participariam do ato na manhã de sábado (25).
As divergências começaram ainda no fim da tarde de sexta (24) quando o prefeito ligou a presidente para confirmar a informação de que o vereador Professor Moreira (PSD), único eleito na oposição, participaria da caminhada. Após confirmação positiva, o mesmo determinou que o convite a ele fosse desfeito. “É ele ou eu”, teria dito Fernandes.
A partir daí, as negociações se intensificaram e adentraram a madrugada. Reuniões presenciais e conversas por telefones. Sem acordo, o prefeito e aliados cancelaram suas participações. Até mesmo a deputada Analice Fernandes, que na semana do evento tirou fotos e postou nas redes sociais, desmarcou. Livres nomeados foram informados e receberam a ordem para que não comparecessem.
“Não teria o menor cabimento o prefeito e a deputada andarem de mãos dadas ou subir no caminhão com alguém que faz críticas ao governo, que é o Professor Moreira. Ainda havia a suspeita [não confirmada] de que o Aprígio poderia participar e teria mandado fazer mais de 100 camisetas. O prefeito ainda não engoliu a entrega do título de cidadão taboanense na Câmara, onde o líder da oposição [Aprígio] colocou um monte de gente para aplaudi-lo”, justificou uma das pessoas, que acompanhou as negociações.
Na caminhada era evidente o desconforto dos vereadores, especialmente porque um dos integrantes do chamado G8, faltou. O vereador André Egydio (PSDB) informou estar com problemas de saúde, mas a justificativa não convenceu ninguém. Nem mesmo pelo fato de seus assessores terem participado da caminhada.
Causador do rompimento, o vereador Professor Moreira (PSD) diz que a causa é suprapartidária e que não faria da caminhada um ato político. “A gente ouve nos bastidores que iriam comparecer todos os membros do Governo e na última hora decidiram não comparecer porque a oposição tiraria o foco do evento. Alegaram que no Título de Cidadão Taboanense houve uma manifestação muito forte a favor da oposição e acharam que aqui seria isso. E não seria. Aqui é outra causa. É suprapartidária. Não entendo porque o Governo perdeu uma oportunidade de aparecer num evento deste”, diz.
E como não era possível esconder, a briga pautou parte dos discursos dos vereadores, que reforçavam a “coragem” dos que foram, e da única secretária municipal, Arlete Silva, da Assistência Social, gritou em cima do caminhão: “[…] Quem está aqui são pessoas de coragem. E viva a democracia. Viva a democracia”, esbravejou.
Logo após a caminhada, o Taboão em Foco e outros jornalistas questionaram os políticos a respeito da ausência da Prefeitura no evento. De forma geral, todos desconversaram do que ocorreu nos bastidores.
“Eu acho que não sou a melhor pessoa para dizer porque eles não estão aqui. Estou aqui como mãe da Joice Silva. Independente de qualquer coisa estaria aqui. Acredito na luta. Acredito que numa entrevista eles [da Prefeitura] podem dizer porquê. Eu respondo por mim”, disse Arlete Silva.
Questionada sobre a briga, Joice resumiu. “Não aconteceu nada. É uma caminhada e algumas pessoas não puderam vir”, diz. Perguntada se estava decepcionada com as ausências, elas respondeu. “Não estou. Alcançamos o nosso objetivo que era chamar atenção da sociedade. Não estou aqui para falar por quem não veio. Cada um fala por si. Não tenho decepção. Tenho um Deus muito fiel”, concluiu.
Priscila Sampaio também foi questionada sobre as ausências. “Allan [repórter], paramos a BR. Colocamos uma multidão na rua. As pessoas que vestem a camisa estão aqui. Infelizmente não podemos obrigar as pessoas a vestir a camisa dessa causa importante. Infelizmente existe o jogo político e vaidades e não podemos fugir disto”, diz.
Marcos Paulo (PPS) também minimizou as ausências. “Essa caminhada não é de governo, não é de oposição. Foi de um grupo de vereadores e não tem bandeira de partido. Não é uma caminhada da administração. Tivemos pessoas que não tem partido ou que são de oposição. Quem não veio perdeu. A caminhada não era do Governo. Era uma caminhada popular, democrática e daqueles que quiseram aqui estar. Se fosse uma caminhada do governo, eu estranharia [as ausências]. Mas não quero entrar neste tema, quero celebrar o dia de hoje”, diz.
Apesar da crise, interlocutores dos dois lados começaram ainda no domingo (26) a tentar amenizar a briga. Nas próximas sessões o prefeito Fernando Fernandes deve enviar pelo menos um projeto de lei em regime de urgência, além do orçamento de 2018, que precisa ser votado.