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ARTIGO: Quem canta, seus males espanta? Uma reflexão sobre o cantar como ferramenta terapêutica

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Por Luana Pacheco Caetano*

A música está em todo lugar. Tem festa? Tem música. Está triste? Ouve música. Encontros religiosos? Tem música o tempo inteiro. Desde os tempos mais antigos, a música e o canto já existiam; a música é tão antiga quanto o próprio homem, costuma ser o consenso entre estudiosos da área.

Mas além de entreter e comunicar, ouvir e fazer música impactam de forma direta e profunda o nosso sistema neurológico. Por mais que esse conhecimento seja pré-histórico – escritos médicos e filosóficos do Egito Antigo e da Grécia já registravam os poderes curativos e restauradores da música – com os avanços médicos e tecnológicos, o som foi perdendo espaço como protagonista na promoção e manutenção da saúde. Apenas na 2ª guerra mundial, em 1944, que médicos americanos voltaram a perceber a influência do som na reabilitação de soldados egressos da guerra; nascia assim a Musicoterapia, ciência que utiliza o som e suas propriedades na reabilitação física, neurológica, psicológica e na promoção da qualidade de vida.

Dentro das muitas possibilidades e finalidades do uso da música e do som como terapia, temos o cantar. Há milênios o canto está presente na vida humana como forma de comunicação e expressão, principalmente das nossas emoções. Desde o canto gregoriano até o “forronejo”, todo ato de cantar tem algo a dizer e algo a realizar. Quando cantamos, damos vazão a sentimentos que muitas vezes não seria possível expressar com a palavra falada, porque não às temos ou porque verbalizá-las é difícil. O cantar generaliza e acolhe, alivia tensões, canaliza a energia e a dispersa em forma de onda sonora, massageia o corpo e também o ego. Todo nosso corpo é utilizado na produção do canto: a respiração coloca em movimento todo o tórax, fazer a voz sair é quase como fazer abdominal, já que é a musculatura do abdômen (o diafragma) que impulsiona esse ar intencional para fora, e para dar forma a esse ar usamos toda a estrutura da garganta e do rosto, dando forma ao som. Pernas e braços se movimentam de forma espontânea marcando o ritmo daquilo que cantamos: dançando. E, para que toda essa estrutura física funcione, é necessário um cérebro que realize as devidas conexões neuronais de comando e percepção, de nós mesmos e do ambiente ao nosso redor.

Afinal, quem canta seus males espanta? Definitivamente sim e não só isso. Quem canta espanta seus males, mexe o corpo, processa a tristeza e o luto, se diverte, cultiva a felicidade. Quem canta, mais do que tudo, vive.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

MILLECCO FILHO, L.A. BRANDÃO, M.R.E. MILLECCO, R.P. É preciso cantar: Musicoterapia, Cantos e Canções. 1ª edição. Rio de Janeiro: Enelivros, 2001.

WISNIK, J.M. O som e o sentido: Uma outra história das músicas. 2ª edição. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

ANDRADE, M. Pequena história da música. 1ª edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.

Luana Pacheco Caetano é musicoterapeuta na Clínica Figueiredo & Lima– APEMESP 1-190151 / Fale com a autora: lucaetano.mt@gmail.com

*O artigo não reflete, obrigatoriamente, a opinião do Taboão em Foco.

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