Por Gilmar Júnior, no Jardim Helena
A administração pública da pasta da saúde de Taboão da Serra se reuniu na manhã desta terça-feira, dia 31 de março, em audiência pública, na Câmara Municipal para discutir os recentes casos de mortes nos hospitais da rede pública. Além dos familiares de Rosemeire Manfrim e Hélio Milke da Silva, que acusam o Pronto Socorro da Antena de negligência médica na morte dos parentes, a secretária de saúde Raquel Zaicaner, funcionários da SPDM e vereadores.

Na primeira parte da audiência a secretária fez a prestação de contas do último quadrimestre de 2014, que destrinchou os custos e gastos da pasta durante o período. A principal reclamação de Raquel é que o Governo Federal não enviou o dinheiro que deveria ter sido recebido para a compra de equipamentos e assim, obrigou a administração pública a repassar uma verba de investimento imediata para a compra do material de trabalho.
Já quando os microfones foram abertos aos munícipes, a secretária virou alvo. Graciele Manfrim, irmã de Rosemeire. “A médica ficou sentada e não fez nada. A médica me deu a notícia, ‘sua irmã faleceu’, pareceu que estava me dizendo uma receita de bolo. Eu quero que vocês me falem o por que. Só isso”, disse. A mãe de Rose, Janalucia afirmou que queria uma resposta, pois a filha não tinha problemas no pulmão e em seu primeiro laudo de morte consta como óbito proveniente de um edema pulmonar.
Logo após a família Manfrim, a presidente da Comissão de Saúde, vereadora Joice Silva (PTB), que presidiu a sessão, concedeu a palavra a Geoclézia Muniz de 22 anos, viúva do gesseiro Hélio Milke, que faleceu com suspeita de dengue hemorrágica. Segundo Geoclézia, ele foi no Antena, depois na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Akira Tada e também no Hospital Universitário (HU), sendo que recebeu o diagnóstico de virose.
Viúva acusa secretária de saúde de atender paciente que morreu com suspeita de dengue hemorrágica
O fato que mais chama a atenção é que quem estava no atendimento de Hélio era a própria secretária Raquel Zaicaner. “Ele estava com manchas no corpo e dores fortes no abdômen. A senhora – se dirigindo a secretária – perguntou para ele se a mancha coçava. Todos os lugares onde ele passou liberaram ele para casa. A senhora foi tão fria. Disse que podia dar Dipirona.O que você faria se fosse o seu filho? Só o último médico que viu e falou que ele estava com algum sangramento. Tanto é que ele anotou na ficha: dengue hemorrágica ?’”, relatou emocionada.

Raquel se defendeu sobre ambos e casos. Sobre o caso de Rosimeire, ela afirma que está aguardando os exames complementares solicitados juntos ao IML (Instituto Médico Legal). Já sobre Hélio Milke, ela afirma que se lembra do atendimento. “Eu estava conversando com o doutor que estava atendendo o seu marido. Eu pedi para que ele revisse o caso, já que o seu marido estava pálido. Mas estamos falando de uma pessoa que passou pelo hospital da USP (Universidade de São Paulo) que não o enquadrou em sequer em fazer um hemograma. Por que avaliou que ele não precisava ter um atendimento médico hospitalar. Então a gente tem que ir de trás para frente e verificar quando esse rapaz teve uma hemorragia”, afirmou. Além disse ela argumentou que a saúde está melhor do que em outros municípios, já que 25% dos usuários são de outras cidades e que agradecem pelos serviços prestados.
RESPONSÁVEIS PELA SPDM NÃO COMPARECEM A AUDIÊNCIA
Sem comparecer ao encontro público, os administradores da SPDM enviaram como representantes o Dr. Nava e Carlos Eduardo Cianfloni, diretor clínico do Antena. Os dois falaram pouco e procuraram ser neutros “Acho que é legítimo os familiares procurarem o Antena. Minha função agora é acompanhar o andamento das investigações, recebendo os exames do IML”. Questionado sobre os óbitos do Antena, o diretor afirmou que está focado nas últimas quatro mortes, pois entrou há apenas duas semanas.
“Isso aqui não passa de um teatro”, diz Luiz Lune sobre audiência
Já ao final da audiência, o vereador e membro da comissão de saúde, Luiz Lune teve direito a um minuto para realizar a sua réplica. O vereador discursou durante cerca de três minutos e foi interrompido pela presidente da comissão Joice Silva, no momento em que pegou um folheto que apresentava os planos de governo de Fernando Fernandes. Ele disparava vários questionamentos à Secretária da Saúde. Sem poder fazer mais questionamentos, ele rasgou os papéis que tinha em mãos, se levantou e esbravejou: “isso aqui é um teatro”.
PRÓXIMO PASSO
Raquel Zaicaner, com o intermédio da vereadora Joice, marcou duas reuniões na próxima segunda-feira (6) com as famílias de Rosimeire e Hélio. A família Manfrim se reúne às 14h e a família Silva às 15h30 na Secretaria Municipal de Saúde.