Artigo: A inteligência emocional em prol da carreira

Por Ionice A. Lourenço

Dentre os formadores de opinião que atuam em diversas correntes, como cientistas, filósofos, neuropsicólogos, palestrantes e escritores, a abrangente compreensão sobre a inteligência emocional pode até encontrar visões e percepções variadas. Mas todos concordam que, em resumo, trata-se da capacidade de gerenciar e administrar as próprias emoções, a despeito das circunstâncias ou da ação de outras pessoas.

Seria ingenuidade supor que a inteligência emocional estaciona por aí. Bem mais do que o significado em si, emoções em equilíbrio proporcionam o exercício da empatia, a boa e velha habilidade de se colocar no lugar do próximo, imaginar o que faz a pessoa agir como age, e possibilita entender o posicionamento dessas outras pessoas com as quais convivemos. Isso tudo permite o favorecimento das relações saudáveis, consequência natural de uma inteligência emocional bem entendida e aplicada.

Há um consenso na vida em sociedade. Independentemente da cultura e dos costumes de cada região, é desagradável lidar com a pessoa que não filtra o que diz, que não se abre para entender e respeitar o outro, que critica e direciona a perspectiva de tudo para o lado negativo, que parece procurar razões para que todos estejam errados, exceto ela.

Não basta ter inteligência emocional. É preciso exercitá-la. Pensemos: ter músculos no corpo é uma premissa da natureza, mas quem exercita essa musculatura acaba impedindo que atrofie. Eis o ponto da analogia. Pessoas que exercitam a inteligência emocional são sensatas e impedem que a raiva exagerada ou a impulsividade controlem e prejudiquem suas relações.

De modo saudável, os praticantes da inteligência emocional conseguem reconhecer as próprias emoções e as alheias, criando e estabelecendo um ambiente harmonioso. Essa prática constante torna o ser humano mais focado e habilidoso, dotado de capacidades interessantes:

  • Discernir entre sucesso e fracasso, sonho real e fantasia;
  • Reconhecer a responsabilidade pelos próprios erros;
  • Gerenciar as emoções com talento;
  • Lidar bem com ansiedade, estresse, pressão e adversidades;
  • Entender os anseios alheios;
  • Procurar resultados mais promissores, no lugar de culpar a falta de sorte ou aos outros.

Conduzindo a reflexão até o lugar em que o ser humano passa a maior parte de seu tempo, o trabalho, pode-se afirmar que a inteligência emocional é recebida pelo setor corporativo-empresarial como tapete vermelho. Afinal, as empresas entenderam a receita do sucesso nesses novos tempos de conexão imediata com o mundo: mais eficiente do que procurar o QI (quociente intelectual), é investir na busca do QE (quociente emocional).

Não é uma busca em vão. Quem assume um cargo de confiança deve saber como gerenciar uma equipe à luz das emoções, transcendendo o conjunto de técnicas que um dia foi suficiente. Quem possui alto QE, portanto,sabe lidar com pessoas e extrair delas o melhor, tem maturidade emocional para lidar com as rotinas estressoras e sabe blindar a equipe contra os fatores contaminantes do cotidiano. Eis três exemplos claros:

  • Fofocas ou notícias negativas que afetam o ambiente interno;
  • Colegas desmotivados que tentam arrastar o restante do grupo;
  • Investidas desleais da concorrência, visando fragilizar o negócio.

No ambiente corporativo e em vários contextos, a pressão por números faz parte do jogo, exigindo de todos um esforço de autocontrole que somente o QE facilita. É nessa hora que surge o diferencial de alguns, que conseguem transitar em cenários complexos ou ambientes heterogêneos e,mesmo sob pressão, geram resultados promissores.

É claro que um recurso tão positivo como este, esconde algumas cartas na manga. Uma delas visa combater os efeitos da impulsividade, o controle inibitório, ou seja, a capacidade que cada ser humano tem de impedir comportamentos inadequados em determinadas situações. O cinema tem um bom exemplo a ceder…

Quem assistiu ao filme “Divertida mente” pôde, de uma maneira lúdica, observar a importância das emoções conflitantes, pois o autor retrata como é essencial vivenciá-las sem perder o autocontrole, trilhando o vai-e-vem do cotidiano, que mistura emoções como medo, raiva, alegria e tristeza, exigindo de nós a máxima eficiência.

Dominar as emoções é o segredo para evitar reações imediatas e impensadas, que quase sempre são frutos desses sentimentos misturados, como um vulcão em erupção. Ao mesmo tempo, permite refletir, aprender a ouvir e respeitar a decisão do outro, ainda que sofra os efeitos naturais dessa decisão alheia.

Daniel Goleman defendeu que o “cérebro emocional responde aos acontecimentos de forma mais rápida do que o cérebro pensante”. Cientes disso, precisamos investir mais e mais na reflexão, antes de partir para a ação.

No cenário empresarial, as melhores oportunidades para a ascensão na carreira surgem a quem responde com ponderação, em vez de reagir com destempero, pois a primeira gera conquistas e a segunda, só resulta em situações embaraçosas.

Em seu livro Inteligência Emocional – A teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente, Goleman destaca:“qualquer visão da natureza que ignore as emoções é completamente míope”.Outra vez, existe unanimidade social, pois quem poderia afirmar que o autor está equivocado? Ou quem ousaria dizer, em pleno século XXI, que as emoções não fazem qualquer diferença para a carreira e a vida como um todo?

Nesse contexto, quem melhor conhece e gerencia as emoções que sente, maior resultado alcança. A premissa é simples, só podemos controlar em nós aquilo que tão-somente conhecemos. Logo, emoções desconhecidas geram descontrole, enquanto a busca por consciência e reflexão é um verdadeiro termômetro para as relações saudáveis em todas as esferas da vida.

Aos primeiros sinais que indicam algum obstáculo para tomar decisões, independentemente da conjuntura, o ser humano se vê diante de um cenário que pode mudar a sua vida:

  1. Encarar as dificuldades dos projetos, confundir as decisões, colocar em risco todo o seu planejamento e tornar-se refém das emoções que não conhece ou não tem trabalhado;
  2. Buscar a psicoterapia, conhecer e lidar com as próprias emoções, podendo talvez consolidar melhor quaisquer que sejam os objetivos.

Ainda existe gente com vergonha de admitir ou reconhecer que determinadas emoções precisam de atenção especial. As críticas surgem de todos os lados, mas ela não vê, não percebe, nem escuta.

– Você é um cara muito ansioso no dia a dia!

– Já reparou que você nunca está errado?

– Você já teria sido promovido, se fosse mais direto para dizer o que pensa!

A primeira resposta indica a necessidade de trabalhar o sentimento de ansiedade, em busca de equilíbrio. A segunda, o perfeccionismo. A terceira, a dificuldade de expressar ideias e convicções.

Embora escute feedbacks assim com frequência, de frase em frase, muita gente segue a vida, ignorando suas emoções afloradas sem medida e, em geral, com um pensamento em mente:

Ela está errada, eu não sou assim e não faço isso!

Até que um dia, supostamente “sem mais, nem menos”, a pessoa é demitida. Não demora muito e sua mente cria uma longa lista de culpados ou “traidores” que articularam sua demissão, mas não cogita que suas emoções tiveram qualquer peso nos resultados recém-colhidos. Para que se tenha uma ideia do problema, dados da empresa Page Personnel apontam que grande parte dos casos de demissões ocorre devido à ausência de inteligência emocional. Isso não significa uma afirmação de todos os casos de demissão, mas apenas uma reflexão sobre o estudo.

A má notícia é que muitos ainda não despertaram o potencial do autocontrole. Já a boa notícia, é que todos nós somos dotados de inteligência emocional. Basta despertá-la, conhecer os mecanismos das decisões racionais e emocionais que adotamos, saber o que podemos compreender ou flexibilizar em prol da felicidade nas áreas pessoal e profissional.

Conquiste os seus sonhos e deixe que a psicoterapia possa, quem sabe, ser a bússola, a essência por trás de seu sucesso. Lembre-se que a inteligência emocional é a fronteira entre o êxito e os resultados frustrantes. Mas é aí, bem nesse ponto, que surge outra boa notícia: quem pode determinar essa área fronteiriça é você!

Por fim, lembre-se:

“Quem opta por se conhecer, decide da melhor maneira viver”

Ionice A. Lourenço

Escritora – Palestrante – Psicóloga – Neuropsicóloga

Atuante na prevenção ao suicídio

CRP 06/112.412

Faça contato com a autora:

ionicelourenco@yahoo.com.br

Referências: https://amenteemaravilhosa.com.br/autocontrole-uma-habilidade-que-pode-ser-reforcada/

Goleman, D; Inteligência emocional – A teoria Revolucionária que define o que é ser inteligente.

*O artigo não reflete, obrigatoriamente, a opinião do Taboão em Foco.

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